A outra maioria

Dia 10 de março, Portugal foi a votos – como há muito não víamos – e o PS perdeu. Não há vitórias morais, muito menos quando partíamos para votos depois de uma maioria absoluta. É evidente que podemos ficar satisfeitos com a pírrica vitória da Aliança Democrática, mas o exercício que importa é perceber como chegamos aqui.

Em 2015, o PS pegou neste país num frangalho, com o povo português de cócoras e restabeleceu um clima de confiança nas pessoas. A política de devolução de rendimentos e aumento dos salários colocou o país a crescer, restabeleceu a confiança nos mercados e virou a página da austeridade, fazendo os Portugueses acreditar que a solução governativa à Esquerda, foi o melhor que poderia ter acontecido a Portugal. Vencemos em 2019, ainda que sem a estabilidade que desejávamos e que precipitou uma eleição fora de tempo que nos deu uma maioria absoluta. O governo caiu – não vou esmiuçar os motivos que derrubaram um governo, mas nos motivos que nos fizeram perder esta eleição.

A verdade é que há uma enorme maioria de portugueses, que fruto da brutal inflação que assistimos viram a sua condição de vida degradar-se. Portugal nunca teve estes níveis de emprego, nunca se subiram tantos salários, nunca a economia cresceu de forma tão consistente, e não conseguiu vencer estas eleições. Milhões de português têm vidas más – trabalham, desgastam-se, arrastam-se pelas fábricas e pelos estaleiros, passam horas nos transportes públicos – para, no fim do mês, contar trocos. Milhões de portugueses penam-se para pagar rendas, para pagar empréstimos de casa, indo trabalhar todos os dias e não conseguindo ver a sua vida avançar.

Estas pessoas, muitas delas com rendimentos que os deixam na zona cinzenta, não sendo pobres o suficiente para terem ajuda do estado, nem ganhando o suficiente para ter uma vida tranquila. Estas pessoas cansaram-se das deficiências nos serviços públicos, de meses de greves que afetaram as suas dinâmicas familiares, que lutam para conseguir consultas, creches, habitação, lares para os pais, respostas… Como canta a A Garota Não, muitos portugueses chegam ao fim do mês e dizem: “não sei o que é que fica”.

E há outra questão que desgastou profundamente a nossa governação – passamos demasiado tempo a desculpar e a retratar casos não políticos e isso marcou a nossa imagem pública.

Entretanto o PS parece que percebeu hoje que, há muito, não tem os votos dos jovens – a culpa não é da JS, que desempenhou um papel inexcedível na Assembleia da República nas últimas legislaturas. Em toda a Europa, os jovens estão distantes da esquerda. Muitos são os motivos – há quem aponte culpas ao fim do comunitarismo e à ascensão do individualismo. Eu, aqui, vou mais longe e afirmo, que reconquistaremos o eleitorado jovem quando conseguirmos voltar a falar aos jovens, com jovens, e que os faça sentir que o Estado está lá sempre ao seu lado para a sua emancipação.

No dia 11 de março, 1.8 milhões de portugueses reconheceram a governação socialista, mas houve uma maioria silenciosa, de milhões de portugueses que votaram numa mudança para Portugal – ou pelo menos acreditam ter votado. Centenas de milhares de portugueses, que não costumam votar sequer, levantaram-se do sofá e foram às urnas. 1.2 milhões decidiram votar no Chega – não sabemos se são todos racistas, fascistas ou xenófobos – sabemos sim, que muitos já votaram no PS. É aqui que temos de refletir e preparar o nosso futuro – reconquistar todos os aqueles que acham que o PS já não está lá para eles.

Este exercício não é aritmético, não é uma ciência exata, mas é uma convicção que me assola, entristece, mas me dá esperança no futuro. O futuro do PS começou a 11 de Março – Portugal Inteiro começou agora, em que demonstraremos novamente a força do PS para reconquistar a confiança de milhões de portugueses, que sempre viram no nosso Partido o baluarte da defesa das suas vidas. O PS estará agora na oposição, responsavelmente, pronto para estar ao lado de todos e não alinhando com aqueles que felizes ficaram por “derrotar o socialismo”.

O PS é muito maior do que a força de qualquer partido. Nos 50 anos do Partido Socialista e do 25 de Abril, estamos aqui hoje, prontos e mais mobilizados do que nunca, sem medo de ir a eleições quando tivermos de ir, mas assumindo que o caminho em frente, se fará com inteligência, paciência e argúcia. Nos próximos anos teremos a mais importante luta das nossas vidas – ainda nesta geração seremos convocados para defender a democracia com mais vigor do que nunca e estaremos lá, nas ruas, nas praças, nas fábricas, ao lado do povo português, dos jovens, dos velhos, ao lado de todos.

A nossa história confunde-se com a história do Portugal democrático – quem quiser destruir a nossa democracia, terá primeiro, que destruir o PS – não passarão!

José Eduardo Gouveia

José Eduardo Gouveia

Membro do Secretariado Nacional da Juventude Socialista