E se o PSD ganhasse eleições sem maioria absoluta?

Na ressaca das Eleições Gerais em Espanha, o Choque de Ideias desta edição debruça-se sobre a seguinte questão: Se o PSD ganhasse eleições sem maioria absoluta, deveria o PS dar suporte a um governo do PSD para impedir uma coligação deste com a extrema-direita?

SIM

Em tempos de polarização política, é imperativo priorizar a estabilidade democrática, evitando assim a ascensão da extrema-direita. Neste cenário, onde a direita democrática conquistou as eleições sem maioria absoluta, surge um dilema crucial para o Partido Socialista. Em nome da coesão e da responsabilidade com o país, o Partido Socialista deve viabilizar um governo de direita democrática para impedir uma coligação com a extrema-direita.

Ao viabilizar um governo de direita democrática, o PS demonstrará que está inteiramente comprometido com os valores fundamentais da democracia, evitando a formação de uma aliança com a extrema-direita.

Importa aludir no espectro político europeu, o Chega, integra uma coligação de partidos xenófobos, racistas e Pró-Putin e nesse campo não basta ao PS repudiar ideologicamente, uma vez que não viabilizando esta solução, indiretamente estaria a colher a responsabilidade pela normalização da extrema-direita.

Vejamos, o Partido Socialista ao permitir esta solução, mostra-se ao eleitorado, como um partido que mais que proclamar o combate político à extrema-direita, coloca-se na trincheira para defender a Democracia, assumindo a responsabilidade no processo político, em vez de optar por uma postura de oposição que no curto espaço de tempo se iria materializar numa perca substancial para os direitos, liberdades e garantias dos portugueses.

Acreditando que ao viabilizar sem pré-condições o governo da direita democrática e reservando a autonomia estratégica do PS levará sempre a uma via dialogante com o objetivo de construir consensos em temas estruturais para o país.

Portugal, como país democrático e membro da União Europeia, dará com esta solução o exemplo em termos de estabilidade política e compromisso democrático. Ao optar por um governo de direita democrática permitido pelo PS, Portugal poderá enviar uma mensagem importante para os restantes estados-membros que se debatem com a ascensão da extrema-direita.

Rita Pereira

Rita Pereira

Membro do Secretariado Nacional

NÃO

Uma democracia consolidada tem de oferecer escolhas aos seus eleitores. Cabe ao Partido Socialista, caso não tenha condições de governabilidade, ser o líder da oposição democrática.

Se o PSD, numa qualquer configuração parlamentar onde seja o mais votado, mas tiver um suporte minoritário, precisar do suporte do Partido Socialista para ter condições de governabilidade significa que não tem condições saudáveis de governação.

O PS não pode ter o ônus de construir pontes para o exercício da sua governação, de acordo com as suas propostas programáticas e, ao mesmo tempo, ser um recurso ou a muleta de uma solução governativa de centro-direita.

Os dois grandes partidos que representam o centro-esquerda e o centro-direita, pese embora sejam ambos moderados, não são naturais parceiros. São, sim, naturais alternativas.

Uma democracia não necessita de mega coligações e não é saudável que elas se realizem. Na aritmética parlamentar atual, sendo o Chega o terceiro maior partido, o PS ao abdicar de ser o líder da oposição entregaria esse estatuto, reconhecido pela Lei, ao Chega.

A génese dos dois grandes partidos portugueses é serem, cada um deles, construtores das suas soluções governativas. O Partido Socialista tem afirmado claramente que o prefere fazer ao lado dos partidos que propõem manuais escolares gratuitos, reposição de rendimentos, redução das propinas, aumento do salário mínimo nacional e afirmação dos nossos direitos, liberdades e garantias. Cabe ao PSD construir uma plataforma clara, vencedora e democrática alternativa a essa. O Partido Socialista tem a sua, à sua esquerda.

Dar ao Chega a capacidade de liderar a oposição enquanto o PS serviria de muleta ao PSD, poderia ser útil no curto-prazo, mas, a médio-prazo, significaria a corrosão das nossas instituições democráticas.

Francisco Themudo

Francisco Themudo

Membro do Secretariado Nacional