Numa leitura atenta pelos jornais desportivos conseguimos apreciar inúmeras conquistas que o desporto nacional tem alcançado num passado recente. Desde logo, a participação de Portugal no Mundial de Râguebi após 16 anos, a participação histórica da seleção de futebol feminino no Mundial e a melhor classificação de sempre nos Jogos Olímpicos em Tóquio’2020, entre tantas outras conquistas. Chegar até aqui foi um caminho sinuoso e, embora tenhamos hoje mais motivos para festejar fervorosamente, a maratona ainda só agora começou…
De acordo com um estudo da PwC para o Comité Olímpico e Paralímpico de Portugal e para a Confederação do Desporto de Portugal, Portugal caracteriza-se por um desequilíbrio da estrutura de financiamento do desporto face aos homólogos europeus. O reconhecimento deste défice de investimento e o papel estratégico que o desporto tem assumido junto da ONU e da OMS, nomeadamente com benefícios sociais, económicos, ambientais e, naturalmente, ao nível da saúde, tem levado o Governo Central a aumentar o valor desta despesa nos últimos três anos.
A tendência crescente de investimento pós pandemia, aliada a uma visão estratégica para o desporto, permitirá que Portugal possa dar sucessivos passos para se afirmar cada vez mais como um país de atletas e para atletas. Da visão estratégia que se roga, é imperativo continuar a olhar para os números. Em 2016, e depois de estudos que revelavam que a principal causa do abandono da prática desportiva, entre os 10 e os 17 anos, se devia à inexistência de processos de conciliação dos estudos com o desporto, foram criadas as Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola. O modelo das UAARE permite a estudantes-atletas de relevo nacional e frequentadores do ensino básico e secundário, estarem enquadrados num programa orientado para o sucesso escolar e desportivo.
Este modelo tem sido um sucesso desde a sua criação, contando já com mais de 1.000 atletas e 23 escolas no projeto. Se, por um lado, há uma resposta para os estudantes-atletas do ensino básico e secundário, por outro lado a ausência de uma modelo semelhante para os estudantes-atletas do ensino superior tem levado muitos estudantes-atletas a optarem apenas pela vida de estudante ou pela vida de atleta. A incerteza de uma vida de atleta, aliada à curta carreira face a outras profissões, leva muitos estudantes a abdicarem da componente desportiva, especialmente quando se deparam com constrangimentos na conciliação do desporto e da vida académica.
Hoje temos ainda mais motivos para fazer a aposta necessária na adequação da vida dos estudantes-atletas que, face a todas as incertezas e adversidades, continuam no ensino superior e elevam o nome do nosso país além-fronteiras, conseguindo, no verão passado, a melhor participação de sempre de Portugal nos Jogos Mundiais Universitários.
Para que possamos percorrer mais uns quilómetros nesta maratona que é a sustentabilidade do desporto de competição, é impreterível que se replique o modelo das UAARE para os estudantes-atletas do ensino superior. Desta forma, iremos permitir que jovens atletas de relevo nacional consigam conciliar a exigência da vida desportiva com o percurso académico. Os resultados chegarão ao quilómetro 42.
Isabel Costa
Membro do Secretariado Nacional