O Choque de Ideias desta edição debruça-se sobre a seguinte questão: Deve o uso de telemóveis ser restringido nas escolas públicas?
SIM
Os espaços de opinião de sim ou não, apesar de serem apelativos do ponto de vista de discussão e reflexão, bem como exercícios de dialética importantes, divertidos até, deixam pouco espaço para os tons de cinza que normalmente circundam as questões importantes. Respondendo de modo direto à questão colocada: sim, creio que o uso de telemóveis ser restringido nas escolas públicas, mas, e há sempre um mas, deverá caber a cada comunidade escolar a decisão acerca da forma e sua aplicação.
Tentarei por isso fazer um exercício ligeiramente distinto. Tentarei expor as preocupações e a linha de pensamento que a mim me levam pessoalmente a concordar com a limitação do uso de telemóveis no espaço escolar. Por não ser especialista em pedagogia faço-me socorrer de um relatório da UNESCO e passarei a reproduzir os principais pontos que me parecem essenciais para esta discussão. 1. A noção de que o uso do telefone no ambiente escolar adicione valor à educação é rebuscada. 2. A questão do bullying ser potenciado pela permanência deste aparelho no espaço escolar contribuindo para uma maior invisibilidade do fenómeno. 3. Os impactos sobre a saúde mental. E ainda um 4º ponto meu, a perspetiva de recreios silenciosos é absolutamente aterradora.
Uma critica que porventura o meu camarada da coluna ao lado fará é a de que defendendo esta posição o que se quer é uma escola de costas para o futuro e caduca que não integre novas tecnologias nas suas aprendizagens. O que há a dizer é que mais importante do que o uso da tecnologia como um fim em si mesmo é a utilização de novas metodologias de ensino que, centradas no aluno, não excluem necessariamente as tecnologias.
A finalidade do ensino e da escola é a de formar cidadãos, que pensem de forma crítica e estruturada. Ora, a cidadania não se aprende com a cabeça na clausura de um telefone dito inteligente, fonte de tremenda distração. Um telefone dito inteligente que tudo faz pelo jovem pupilo. Um aparelho que é cada vez mais o alfa e ómega da sociabilidade humana. A cidadania também se ensina a brincar no recreio. A cidadania é exercida com os outros e pratica-se olhos nos olhos. A escola é a construção humanista por excelência e devemos pugnar para que assim continue a ser, com a Humanidade sempre no seu cerne.
Luís Carvalho
Coordenador Nacional dos Estudantes Socialistas
NÃO
Este é um debate estruturante, não pela perspetiva geracional, como aparenta, mas sim sobre a visão de cada um em relação a emancipação e liberdade, ou proteção e segurança dos jovens deste país. Nós, europeus, consideramos que o sistema educacional deve garantir que todas as escolas incutam e aplicam estes princípios.
A complexidade do problema está em saber qual é a dose certa de cada destes princípios para o desenvolvimento. Considero razoável restringir o uso de telemóveis nas escolas até ao 4º ano de escolaridade, ficando essa decisão sujeita a deliberação da comunidade educativa de cada escola em particular. Simplesmente por ser uma idade onde o uso dessa tecnológica pode prejudicar fortemente o desenvolvimento cognitivo dessas crianças.
Posteriormente a esse ano de escolaridade, a restrição é legitimada apenas através de uma discussão ampla e justa, onde os alunos, organizações representativas dos estudantes, pais e professores, colocados em pé de igualdade, ou seja opinião e voto. Assim posso reconhecer a restrição do uso dos telemóveis dentro do recinto escolar. Isto porquê?
Porque estamos a falar de uma cedência de liberdade pessoal, um “contrato social” dentro da comunidade escolar, que reconhece a legitimidade dessa restrição. A educação acontece de forma continuada, ao longo da vida, não é lógico acharmos que restringir o uso de telemóveis nas escolas vai fazer diminuir os vícios e a dependência nessa tecnologia fora do horário escolar. O choque entre a educação na escola e extraescola já é gigantesco, imaginemos o que seria aplicar mais condicionantes para a autonomia individual na própria escola do que em casa. Uma escola moderna vai ser apelativa, vai capacitar os jovens para que vivam mais a realidade que o virtual, essa escolha vai ser natural. O protecionismo exagerado não ajuda ninguém, as crianças precisam de brincar, os jovens precisam de interagir entre si, mas isso deve partir das suas próprias decisões e independência, da sua natureza como seres sociais.
O papel da nossa sociedade é educar os jovens para a liberdade o que acarreta, inevitavelmente, consigo a responsabilidade. As noções de perigo e vicio que os telemóveis podem representar, mostram, também aos jovens portugueses, que nada pode substituir o convívio e a amizade. Conhecimento e emancipação é a melhor forma de crescer, numa palavra de desenvolver um cidadão.
Manuel Pinto
Coordenador Nacional Adjunto dos Estudantes Socialistas