Não, este não é o momento certo para vender a TAP. Numa fase em que a companhia aérea se encontra estável, apresenta bons resultados e gera lucros, nenhum português irá compreender que se privatize a companhia aérea nacional depois de todos os esforços feitos para a salvar.
Quando em 2021, num dos momentos mais críticos da história da TAP e do setor da aviação o Governo do Partido Socialista tomou a decisão corajosa de nacionalizar a companhia aérea, a direita acusou o PS de tomar a decisão por “bravata ideológica”. Na altura, o então líder da Iniciativa Liberal disse que “a única certeza é a de que vamos perder dinheiro e continuar a não ter um serviço de qualidade”.
Foi de facto uma decisão corajosa e que acarretou na altura pesados custos políticos. Contudo, sempre mantive a convicção de que o tempo daria razão ao Governo e ao Partido Socialista, mal a companhia começasse a apresentar bons resultados. Esses bons resultados apareceram até antes do que era previsto. Agora em 2023, com a TAP a apresentar lucros e receitas recorde, a aparecer bem colocada em vários rankings no que diz respeito à qualidade do serviço e com uma situação de endividamento muito mais saudável, comprovou-se mais uma vez que afinal ainda não foi desta que o diabo apareceu.
Comprovou-se que a gestão pública foi muito mais eficaz do que a gestão privada. A gestão pública colocou ordem na casa, pôs fim ao logro do negócio da manutenção no Brasil (que deu um prejuízo superior a 600 milhões de euros ao longo de 13 anos), operou um processo de reestruturação difícil e sinuoso, mas no fim deixou a companhia numa boa situação financeira.
E foi durante esta fase de bonança que o Governo decidiu dar início ao processo de reprivatização da TAP, com vista a alienar pelo menos 51% do capital.
A TAP desempenha um papel fundamental na economia nacional, sendo o maior exportador de serviços do país e tendo um papel determinante na criação de postos de trabalho, diretos e indiretos. Além disso, tem a responsabilidade de fazer a ligação com os países lusófonos e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Uma companhia com esta importância deve manter-se na esfera pública, ou pelo menos deve o Estado conservar uma posição maioritária que lhe permita definir a estratégia e as grandes opções.
Temo que venha a ser incompreensível para a larga maioria dos portugueses que depois do Estado ter assumido o ónus de salvar a TAP num momento tão conturbado e tê-la colocado na trajetória correta, venha agora numa fase em que a empresa se mostra rentável, com lucros e menos endividada, privatizá-la de novo.
Diogo Vintém
Diretor do Jovem Socialista