Nesta edição de abril de 2024, convidámos Sofia Pereira, Presidente da Federação de Viseu da Juventude Socialista e Membro do Secretariado Nacional da Juventude Socialista, a responder ao Questionário Proust Militante.
1. Como entraste na Juventude Socialista?
Tinha 15 anos. Participava todos os anos, desde o ensino básico, no Parlamento dos Jovens e isso levou-me a ser curiosa em relação aos partidos políticos e às Juventudes Partidárias. Coincidentemente, o líder da JS Lamego à altura abordou-me. Não tomei logo a decisão. Passados alguns meses, em que li e tentei saber mais, entrei em contacto com ele e pedi a ficha de militante. Acreditava que com a JS podia dar o meu contributo para torar o mundo um bocadinho melhor. Quase 10 anos depois ainda acho.
2. Qual o momento da tua militância que mais te marcou?
Em 2015, eu era uma adolescente que tinha vivido os últimos anos num país à direita; uma adolescente que ouvia todos os dias pessoas a descrever aos adultos que me acompanhavam as suas dificuldades em ter dinheiro para viver ao invés de sobreviver, pessoas que contavam os trocos a meio do mês porque os salários eram baixos, a precariedade era alta, o país era pobre. Por isso, no ano de 2015, marcou-me o momento em que percebi um entendimento à esquerda, um momento de mudança que prometia virar a página aos anos de austeridade que lhe antecederam. As pessoas estavam expectantes e isso marcou-me.
3. O que mais te orgulha teres feito na tua militância?
O que mais me orgulha, até hoje, é de facto ter tido a possibilidade de, em vários momentos,lutar pelas causas certas; com as pessoas que me pareciam certas – os meus camaradas e tantos amigos da JS. Sinto a JS como uma casa de todos nós, onde sou livre e onde luto todos os dias pela garantia dessa liberdade.
A defesa do clima e a luta pela justiça climática são dois motivos que me movem em especial: é um orgulho ser militante de uma estrutura ativista, ecologista e feminista. Sinto que todos e cada um de nós, todos os dias, cumprimos mais um bocadinho do que me levou a juntar-me à JS – tornar o mundo um lugar um bocadinho melhor – e isso enche-me de orgulho.
4. Quem foi a pessoa que mais marcou a tua militância?
Durante estes anos de militância na JS conheci muitas pessoas, umas que gostei mais, outras menos, mas muitas que me inspiram. Para mim, fazer parte desta estrutura é também significado de respeitar um conjunto de valores e causas que me dizem muito. Quando comecei a participar mais e a sair da bolha do meu contributo, maioritariamente, local e distrital, o Miguel Costa Matos estava prestes a ser eleito SG da JS. Acompanhei de perto as lutas nacionais da JS, com as quais me revia e queria, cada vez mais, ter um papel ativo na sua defesa. Foi com o Miguel Costa Matos que integrei e integro o Secretariado Nacional da JS, que me permite ter a honra de representar esta organização que tanto me diz e que no fundo me representa mais do que eu algum dia poderia representar dela. Por isso, acho que posso dizer que quem mais marcou a minha militância foi o Miguel enquanto Secretário-geral da JS.
5. Quem é a tua grande referência política na área do socialismo democrático?
Sem dúvida, Mário Soares. Considero, aliás, acho que todos os socialistas, que Mário Soares foi uma figura extraordinária que desafiou a opressão e sacrificou a própria liberdade em nome da democracia. Para mim, é um símbolo da luta pela liberdade.
6. E fora do campo do socialismo democrático?
Eu considero que tudo o que fazemos é político, por isso, escrever também é um ato político e Saramago é uma grande referência para mim. Pela audácia, pela acutilância, pela lucidez, pelas causas certas, pelo brilhantismo e por me levar a questionar, tudo. Até a mim.
7. Qual a característica que mais admiras num político?
A empatia. A política é feita de pessoas e para pessoas, só podemos ser realmente bons políticos se formos empáticos com os problemas dos outros. Calçar os sapatos dos outros.
8. E qual a característica que mais desprezas?
Deslealdade.
9. Qual foi o discurso que mais te inspirou até hoje?
Primeiro discurso do Lula da Silva depois de ter sido eleito presidente do Brasil em 2022. Provavelmente não pela forma, não por ter sido um discurso muito bem-dito ou com todas as características da retórica que às vezes nos conseguem levar às lágrimas, mas porque depois da pandemia por covid19, depois de um mandato de Bolsonaro; entre a fome, o medo, a miséria, Lula da Silva é eleito Presidente e no seu primeiro discurso, com empatia e seriedade, reconhece a fome; a pobreza; a miséria e a ausência de esperança. Num momento em que o mundo parecia mais cinzento, não pela forma, mas pela clareza, deve ser um dos discursos que me lembro de mais me inspirar e comover.
10. Qual foi a medida/política que mais te marcou até hoje?
A aprovação da despenalização da morte medicamente assistida. Espero genuinamente que o futuro seja de progresso nesta matéria e que não se retroceda.
11. Se tivesses a oportunidade de mudar algo no mundo, o que seria?
Se tivesse a oportunidade, invertia a tendência da sociedade em se tornar cada vez mais individualista, avaliada pelo mérito que não está ao alcance de todos e a indiferença aos fatores que fazem dessa uma corrida desigual.
12. Qual o livro que todo o socialista tem de ler?
“Admirável Mundo Novo” porque o interpretei como uma crítica ao totalitarismo e à desumanização. Levanta questões importantes sobre o papel do Estado, da tecnologia e do consumismo na sociedade, e ainda, através das divisões de classes, expõe as injustiças de um sistema que sacrifica a liberdade em nome da estabilidade.
13. Qual o filme que todo o socialista tem de ver?
“Parasitas”, pelo facto que ser um filme atual, que explora as complexidades das relações sociais, as assimetrias de classes e a forma como as pessoas se tentam adaptar a qualquer custo para tentarem sobreviver numa sociedade desigual.
14.Qual o conselho que deixas a quem está agora a iniciar a sua militância política?
Sejam irreverentes, não deixem só para os outros todas as lutas que querem ver com voz – sejam a voz inconformada que grita sempre mais alto do que as resistências que as querem travar.
15. O que é o socialismo para ti?
O socialismo para mim é luta. É luta pela liberdade; luta pela garantia dos direitos liberdades e garantias de todas as pessoas; luta pela igualdade e pela ideia de comunidade que trabalha, em cooperação, como um complexo mecanismo de construção de uma vida melhor para todas as pessoas independentemente da condição de cada um.
Sofia Pereira
Membro do Secretariado Nacional da Juventude Socialista